"O homem está firmemente convencido de que vela, mas na realidade é apanhado numa rede de sono e de sonho que ele próprio teceu. Quanto mais apertada é essa rede, mais poderosamente reina o sono. Aqueles que estão presos em suas malhas são os adormecidos que caminham através da vida como rebanho de animais levados para o matadouro, indiferentes e sem pensamentos.
Os sonhadores vêem através das malhas um mundo quadriculado, só distinguem aberturas enganadoras, agem de acordo com essa perspectiva e não sabem que esses quadros são apenas os fragmentos insensatos de um todo enorme. Esses sonhadores não são, como talvez o suponham, os lunáticos e os poetas: são os trabalhadores, os sem-repouso do mundo, os possessos da loucura de agir. Assemelham-se a caravelhos feios e laboriosos que se arrastam ao longo de um cano liso para nele mergulharem ao chegar lá em cima. Dizem que velam, mas aquilo que julgam uma vida não é senão um sonho, determinado antecipadamente nos mínimos pormenores e subtraído à influência de sua vontade."
(Excerto do romance Le visage vert, de Gustav Meyrinck. Ed. Émile-Paul Fréres, Paris, 1932)
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