13 de mai. de 2008

PALAVRAS SOBRE UMA FESTA DO DIVINO II

Na fila do afogado, no primeiro sábado da festa.

No primeiro sábado da festa, o afogado foi servido à noite, no recinto de exposições.

Atravesso a passarela sobre o rio Parahytinga e já avisto a fila. São 19:45, acho.
Vou seguindo até chegar no recinto, há umas trezentas pessoas na fila. Já é possível sentir o aroma do afogado no ar, mas ainda não começaram a servir.
Volto novamente ao fim da fila, afinal não pretendo furá-la. Sim, o afogado é mítico. Porém é aconselhável que você leve um bom livro, ou cruzadinhas, linhas e agulha de crochê, mini-game(?), ou que vá acompanhado de amigos para tagarelar afim do tempo passar. E até mesmo um baralho, para uma cacheta, ou truco! No meu caso, sozinho, um pouco menos de meia garrafa de fogo paulista, e já devidamente sob a brisa do barrufus.
Alí, naquele trecho de fila, nesse começo de festa do Divino, quae todas as pessoas são da cidade, famílias, cada qual com um pote do tamanho da sua gula. Em outras edições, alguns populares utilizaram seu próprio chapeu para colocar o afogado, e acredite, até mesmo suas botinas!

Quase uma hora após eu chegar, constatamos que tem tanta gente furando logo na entrada que a fila continua imóvel. A maioria adere ao "jeitinho", mas algumas pessoas resignadas fazem questão de esperar. Será por uma questão de honra? Sem graça de furar? Ou será que esperar na fila torna o afogado mais gostoso? Talvez outros achem que não, pelo contrário, certamente muitos pensam que furar a fila da um sabor especial, além do que é muito mais rápido e necessita de menos paciência.
Continuo alí também firme e forte esperando minha hora chegar, me preparando para desgustar o pitoresco prato luizense.

Duas horas depois que eu cheguei na fila, chego ao recinto. Nos últimos metros termino com a garrafa, meio que às pressas, e tiro da sacolinha os dois potes que levei.
Há um palco, com uma dupla cantando música sertaneja com um teclado programado. Mas não importa, porque só o que importa agora é o fato de estar chegando lá...
Agora, os batuques nas vasilhas e potes é o que impera. Derrepente alguém desatento começa um batuquezinho e logo se vê vários potes sendo tamburilados.
Há muita gente no recinto, devorando suas vasilhas cheias de afogado, satisfeitas, até em êxtase! Antes de começar a ser servido, o padre benze o afogado. Mas nem todas as pessoas alí são católicas. A distribuição de comida gratuíta transcende a religião, sem perder a mística.
Finalmente adentro o saguão. Estico meu braço com a vasilha, onde uma senhora coloca duas cinchas de feijão com carne e batatas cozidas. Em seguida na próxima panela, um homem completa com arroz e farinha de mandióca. Depois, na segunda vasilha, macarrão e costela de boi derretendo, desprendendo do osso. Pra completar, uma sacola com doce de leite, paçoca, doce de abóbora.
Aposto que você ficou com água na boca, não?

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