18 de mai. de 2008

ilustração por Dan Tucci

Não!

Em todos os lugares há pessoas abandonadas à televisão com uma naturalidadade amedrontante.
Suas vidas estão nas mãos das grandes corporações e produtores de programas televisivos, bombardeados por tendências, informações manejadas, induções ao consumo, é a exclusão quase que total da idéia de propagar a inteligência a seus interlocutores

13 de mai. de 2008

PALAVRAS SOBRE UMA FESTA DO DIVINO II

Na fila do afogado, no primeiro sábado da festa.

No primeiro sábado da festa, o afogado foi servido à noite, no recinto de exposições.

Atravesso a passarela sobre o rio Parahytinga e já avisto a fila. São 19:45, acho.
Vou seguindo até chegar no recinto, há umas trezentas pessoas na fila. Já é possível sentir o aroma do afogado no ar, mas ainda não começaram a servir.
Volto novamente ao fim da fila, afinal não pretendo furá-la. Sim, o afogado é mítico. Porém é aconselhável que você leve um bom livro, ou cruzadinhas, linhas e agulha de crochê, mini-game(?), ou que vá acompanhado de amigos para tagarelar afim do tempo passar. E até mesmo um baralho, para uma cacheta, ou truco! No meu caso, sozinho, um pouco menos de meia garrafa de fogo paulista, e já devidamente sob a brisa do barrufus.
Alí, naquele trecho de fila, nesse começo de festa do Divino, quae todas as pessoas são da cidade, famílias, cada qual com um pote do tamanho da sua gula. Em outras edições, alguns populares utilizaram seu próprio chapeu para colocar o afogado, e acredite, até mesmo suas botinas!

Quase uma hora após eu chegar, constatamos que tem tanta gente furando logo na entrada que a fila continua imóvel. A maioria adere ao "jeitinho", mas algumas pessoas resignadas fazem questão de esperar. Será por uma questão de honra? Sem graça de furar? Ou será que esperar na fila torna o afogado mais gostoso? Talvez outros achem que não, pelo contrário, certamente muitos pensam que furar a fila da um sabor especial, além do que é muito mais rápido e necessita de menos paciência.
Continuo alí também firme e forte esperando minha hora chegar, me preparando para desgustar o pitoresco prato luizense.

Duas horas depois que eu cheguei na fila, chego ao recinto. Nos últimos metros termino com a garrafa, meio que às pressas, e tiro da sacolinha os dois potes que levei.
Há um palco, com uma dupla cantando música sertaneja com um teclado programado. Mas não importa, porque só o que importa agora é o fato de estar chegando lá...
Agora, os batuques nas vasilhas e potes é o que impera. Derrepente alguém desatento começa um batuquezinho e logo se vê vários potes sendo tamburilados.
Há muita gente no recinto, devorando suas vasilhas cheias de afogado, satisfeitas, até em êxtase! Antes de começar a ser servido, o padre benze o afogado. Mas nem todas as pessoas alí são católicas. A distribuição de comida gratuíta transcende a religião, sem perder a mística.
Finalmente adentro o saguão. Estico meu braço com a vasilha, onde uma senhora coloca duas cinchas de feijão com carne e batatas cozidas. Em seguida na próxima panela, um homem completa com arroz e farinha de mandióca. Depois, na segunda vasilha, macarrão e costela de boi derretendo, desprendendo do osso. Pra completar, uma sacola com doce de leite, paçoca, doce de abóbora.
Aposto que você ficou com água na boca, não?

PALAVRAS SOBRE UMA FESTA DO DIVINO

Moçambique no primeiro sábado da festa

Como se estivesse quase em outro plano, espiritual, dimensional? O moçambique se apresenta na praça, em frente a escadaria da igreja.
Como se tudo à volta fosse invisível, os percussionistas começam a esquentar seus instrumentos.
Ao redor há poucas pessoas. Dessas, várias tiram fotografias, agacham-se, quase deitam no chão afim de capitar um enquadramento mais anguloso, com a igreja ao fundo.
O violonista entra no rítmo com as notas sol e ré, compassadas com o toque do pandeiro, da pequena sanfona, do pequeno tambor e também do tambor maior. O som repetitivo vai entretendo meio como um mantra até. Os ouvidos mais atentos começam a identificar os instrumentos, timbres, rítmo, melodia. Olhos buscam os movimentos dos personagens do moçambique, todos vestidos de branco. E então os moçambiqueiros com fita cruzada sobre a camisa entram no som com sua dança percursiva, munidos de enormes guizos amarrados nos tornozelos e pernas, cada qual com seu pedaço pequeno de madeira na mão, lúdicas espadas que vão se colidindo e preenchendo o rítmo, a música - será que eles tem pilhas por dentro das pernas?

Na sua quase totalidade, senhores de idade, pessoas simples, humildes, compenetrados, e altivos na sua tradição e fé. Estão se apresentando para o Divino.
Uma senhora bem vestida, com toda pinta de turista me indaga:
- Você é daqui da cidade?
- Sim e não - respondo
Uma outra senhora pergunta mais adiante:
- O que é isso?
- É a congada - um sabichão prontamente responde, sem saber que é o moçambique.
É uma tarde fria e o vento balança as fitas vermelhas e brancas, amarradas da igreja para a praça, fazendo um efeito visual vivo e brilhante...






3 de mai. de 2008



EMPREGO...

ESTOU CANSADO
MINHA CABEÇA ESTÁ PRENSADA
PELA ROTINA
PELO TRABALHO
PELA DISTÂNCIA
A QUE O EMPREGO ME SUBMETE

EU NÃO DURMO
APESAR DE QUASE VEGETAR
TENTO ME REINTEGRAR

A NOITE NA CIDADE
TEM SIDO O BARULHO DOS CARROS
ES LUZES PEQUENINAS
DOS FARÓIS
DOS POSTES
E DAS JANELAS DOS APARTAMENTOS

VOU ME ARRASTAR À CAMA
EM UM QUASE LAMENTO
AMANHÃ
É MAIS TRABALHO

O DINHEIRO QUE GANHO
É SÓ O QUE VALHO