10 de set. de 2008

"... a fruição do prazer está separada do trabalho, os meios do fim, o esforço da recompensa. Eternamente acorrentado a um único e diminuto fragmento do todo, o homem configura-se apenas como um fragmento; escutando sempre e apenas o monótono rodopiar da roda que ele faz girar, jamais desenvolve a harmonia do seu próprio ser e, em vez de dar forma à humanidade que existe em sua natureza, converte-se em simples marca de sua ocupação, de sua ciência."

Schiller, Cartas Sobre a Educação Estética
"Reduzir a imaginação à escravidão, mesmo que estivesse em jogo aquilo a que se chama grosseiramente felicidade, é privarmo-nos de tudo que encontramos, no nosso íntimo mais profundo de justiça suprema. Somente a imaginação nos diz o que pode ser."

André Breton, Les Manifestes du Surréalisme
"Tudo passa, tudo retorna, a roda da existência gira eternamente. Tudo morre; tudo torna a florescer; correm eternamente as estações da existência.
Tudo se destrói, tudo se reconstrói, eternemente se edifica a mesma casa da existência. Tudo se separa, tudo se saúda outra vez. O anel da existência conservou-se eternamente fiel a si mesmo.
A todo instante a existência principia; em torno de cada aqui, gira a esfera acolá. O centro está em toda parte.
Tortuosa é a senda da eternidade."


Nietzsche, Assim falou Zaratustra

Além Sois

somente nave vagando em ruínas carcomida pelos confins do espaço sideral

[ou seria ruína de estação espacial?]

uma carcaça-humana em um planeta de barro
buracos nas montanhas, casas nas cavernas
asas brotam da carcaça carcomida
fezes e formigas são atiradas pelos megafones
girafas de duas pernas de terno e cigarrilha
apontam no céu vinho, refletindo os sóis
outrora carcaça irrompendo além


por D. Tucci
como onda que vem e encharca
aquele sabor selvagem do mar
cristalizado na serra

transcendemos, graciosa personagem
posso notar em ti rebeldia arisca quase caribenha
escorrendo em sua pele branquinha
portos, águas
fogo intenso e muito calor
transborda
em olhares curtos e gulosos
afiados e aquele carisma
pirata [e cigano (?)]

beija de língua o mar e ataca
encina palavrões para sua maritaca
[tudo é possível pois estamos no espaço-tempo parahytinga
onde todos os lugares são possíveis]


por Dan Tucci

Odeio-te

Odeio carros e o barulho de seus motores, sua fumaça e os combustíveis que consomem, o espaço físico que tomam nas cidades, as mortes e acidentes causadas por eles e seus motoristas. Odeio gente que se acha mais do que outras pessoas por que possui carro e odeio mais ainda pessoas que valorizam alguém por possuir carro.
Odeio asfalto, faróis de veículos batendo na vista, faróis de trânsito, placas de trânsito, guardas de trânsito.
Odeio fábricas, montadoras e lojas de carros. Odeio que quem compra carro. Odeio quem vende. Odeio pneus e seus cemitérios. Odeio "marias-gasolina" e "co-pilotos".
Odeio oficinas mecânicas, funilarias, borracharias, auto-elétricas, auto-peças...
Odeio ruas, avenidas, cebolões, viadutos, pontes e a forma como a estrutura e a paisagem das cidades são defenestradas em função dos carros.
Odeio buzinas, som alto em carro de playboy otário e aqueles carros que passam com caixa de som encima fazendo propaganda.
Odeio ver carros. Odeio propaganda de carros. Odeio competições de som em carros, rachas, ralies, grande-prêmios e etc.
FODA-SE SEU CARRO! Vou explodi-lo.

Flashback Urbanóide

cabuladas e fliperamas
asfalto molhado de chuva à noite
tantos anéis nos dedos que mal consigo pôr as mãos nos bolsos
fones nos ouvidos e ônibus lotados
calça rasgada no joelho
trem desliza pelo avesso da cidade
rolês pelo centro
rebeldias incontidas & fugas para o mato &
histórias em quadrinhos
duas salsichas verdes no dog do centrão
50 cents no único bolso não furado

por Dan T.