21 de dez. de 2009

Ilustração: Andy Singer

11 de nov. de 2009


E nada nunca mais será como antes...

9 de out. de 2009


Uma noite paulistana...
Carros aceleram no asfalto semi molhado pela garoa... videogames, pizzas e luxúria in vitro. Os últimos ônibus denunciam o início/ nascer da madrugada... Nem sequer faz frio para que meu corpo gele e assim eu possa sentir de forma concreta e carnal que não sou um mero fantasma perambulando pelas calçadas vazias da megalópole desinteressada.. Nem calor. Alías, calor algum...
Quase que invisível, transparente, já não sou parte da paisagem urbano apocalíptica... Isso tudo bem que poderia ser uma cena/ cenário e filme futurista classe B da década de 80...
Talvez somente o que poderia me aquecer nessa noite preâmbulo de fim de ano seriam um par de olhos bem de frente sem pudores/ temores, cílios, lábios, carícias, cumplicidades inatas e fantasias divinas irrompendo dimensões afora...
Mas, nesse universo cinza, esfumaçado, anônimo e alienado, as ruas não são aconchego, as dádivas são recebidas com desconfiança, tudo é tão formatado, que se foge à regra mesquinha da necessidade, já se torna surreal, inconfiável, fantasioso, inacreditável, metafísico até, transcendental mas marginal, amedrontador pela afronta à covardia ignorante do sentido prático superficial...
D. TUCCI

7 de out. de 2009

Jungle
Dan Tucci

2 de out. de 2009


"Sobretudo, o trabalho árduo converteu-se numa virtude, em vez da maldição que sempre foi proclamada pelos nossos remotos ancestrais... Os nossos filhos deviam ser preparados para criar os filhos deles de modo que não tivessem que trabalhar como uma necessidade neurótica. A necessidade de trabalhar é um sintoma neurótico. É uma muleta. É uma tentativa para que nos sintamos valiosos, embora não exista uma necessidade particular de trabalharmos."

C. B. Chisholm, Psychiatry, Vol. IX, N. 1 (1946), pág. 31.

14 de set. de 2009


Creio na prática e na filosofia do que se convencionou chamar de magia, e no que devo chamar de invocação dos espíritos, embora sem saber o que são, no poder de criar ilusões mágicas, nas visões da verdade nas profundezas da mente quando os olhos estão fechados; e creio... que as fronteiras da nossa mente mudam-se constantemente, que muitas mentes podem fluir em outras, por assim dizer, e criar ou revelar uma mente única, uma única energia... que as memórias são partes de uma grande memória, a memória da própria natureza.

W. B. Yets
Ideas of Good and Evil

11 de set. de 2009

marcoriobranco do parahytinga


Alguns dizem que Marco Rio Branco é de Marte. Alguns diriam que Marco Rio Branco é um planeta. Já disseram que Marco é um rio, paralelo e intrinsecamente ligado ao parahytinga rio. Marco Rio Branco é do mundo.
O mundo é do Marco Rio Branco, via rádio, pé nas ruas, longas, afiadas e ricas conversas, inteligência e muita imaginação. Sim, cosmopolitamente univesal, e(!) claro, essência e cultura da Parahytinga cidade, flutuando entre letras, poesia, histórias, idéias e melodias, pela beira do Parahytinga rio, pelas infindáveis montanhas e rochas do Parahytinga vale, e finalmente pelas bandas do Oriente em Catuçaba...
Parahytinga brisa espalhada pelos Quatro Cantos do Universo... Brisa do Universo espalhada pelos Quatro Cantos da Parahytinga alma...
(Por D. Tucci)

"Anarquia Cultural!" reproduz aqui dois poemas de marcoriobranco, publicados em "micromarco", São Luiz do Paraitinga, 2008:
"qual'a idade" e "faca".
Bom deleite.


qual'a idade? (por marcoriobranco)

não sou católico
não sou apostólico
muito menos romano
sou mesmo católico
nada nada apostólico
mas por demais parahytingano
e é por isso mesmo
que sou obrigado a desagradar
luizenses gregos troianos
neste dia nesta madrugada nesta tal dona da noite
...
atente para o refrão
minha Senhora meu Senhor
nunca gostei
jamais me simpatizei com versos tão sobressaltados
tais como:
cidade imperial
imperial cidade
...
cidade imperial o escambau!
o que me interessa
e é somente isso o que me importa
é não precisar e nem querer
coro nenhum pra aludir
ao primo princípio de do lugar comum
esse tal negócio de que a Parahytinga cidade
em acordo com as escrituras públicas
mora e remora
leis e leis e leis que regem
leis e leis e culturas de livros afins e enfns
estampam e estufam o peito que o 08 de maio de 1769
sendo o noves-fora como uma data sã
...
qual que nada
é bobagem
pura bobagem!
tudo bobagem!
total embromagem!
...
a Bahia nasceu num dia
e no dia seguinte virou quinhentista
haja visto também para
Rio de Janeiro São Vicente Porto Seguro e Cabrália
e mais outros tantos e tantos seculares lugares
...
tudo bobagem!
tudo bobagem!
gosto porque gosto da simbologia numeral
mineral mental abstrato
somente isso - nada mais que isso
quantos anos você tem
quantos?
quantos?
é pouco!
muito pouco!
pouco mesmo
...
no seu eterno e brilhante livro
São Luis do Paraitinga (usos e costumes)
datado no ano da graça de 1949
Mario Aguiar, logo na primeira página, recomenda
"A 5 de Março de 1688 foram concedidas
nos sertões do Paraitinga, as primeiras sesmarias
requeridas ao capitão-mor de Taubaté
Felipe carneiro de Alcaçouva e Sousa
pelo capitão Mateus Vieira da Cunha e João Sobrinho de Morais,
que alegaram pretender povoar aquela região".
lá pelas tantas e tintas páginas
Mario Aguiar relembra
e invoca mais poesia em nossa dobrada musicalidade
"Sam Luis e Santo Antonio da Parahitinga"
(não é mesmo um maravilha esse nome escrivinhado assim:
Sam Luis e Santo Antonio da Parahitinga?)
...
assim está escrito nos ditos anais do município
se assim está escrito
muito mais que escrito
inscrito para sempre assim está
não sou eu que está falando
tá muito bem delineado no fabuloso
e magistral livro de capa preta do
CONDEPHAAT - 2a. Edição - 1977 - página 21:
"A Capela das Mercês foi documentada numa história manuscrita,
de autor desconhecido, que existe no museu de SLParaitinga:
Relato da Historia de SLParaitinga de 1686 a 1913
...
no entanto seja,os rápidos no pensamento
bem passado ao ponto do sol do meio dia
os primeiros gentios
( como gostavam de apregoar os portugueses)
desse dito mundo moderno
deram o ar da sua graça por esse Vale do Parahytinga
por volta do ano da graça de 1688
(vou quebrar o galho e não vou tocar no assunto de 1686)
tudo isso sem contar os índios que por aqui
já deitavam e rolavam com suas caças pescas rituais festivos
...
portanto
façamos as devidas contas
cadê aquela bela matemática que qualquer criança
sabe de cor e salteada ao roubar uma laranja
ou um pedaço de um saboroso doce de leite
no estupendo e magnífico Mercado Municipal aos sábados
na sua bela e distinta sabedoria infântica?
...
estamos concordados, então?
de minha modesta parte despeço-me por aqui
a esquina do meu mundo fundo mundo
ainda se chama Vorta da Cachoeira
Quatro Cantos ou Mercado Municipal
mas pode me chamar também como Parahytingano


A faca (por marcoriobranco)

a verdadeira faca diz que seduz porque nasceu assim
e que não pode fazer nada contra sua natureza
que é seduzir e cortar
seduzir quem a v contra o infinito
de sua estonteante beleza
...
a verdadeira faca diz que adora seduzir cortar e sangrar
e como gosta de sangrar
sangrar até não poder mais
até não poder mais
...
a verdadeira faca sempre vive dizendo por aí
que adora fazer o que gosta
seduzir cortar e sangrar
...
sim
essa é a velha e verdadeira faca
que gosta de seduzir
porque nasceu assim
...

8 de set. de 2009

FOLCLORE MUSICAL


INFLUÊNCIA DA MÚSICA AMERÍNDIA NA MÚSICA BRASILEIRA

No Brasil, a natureza, em audaciosa cenografia, dispôs quadros empolgantes - e o homem, animador máximo dêsses panoramas, não podia deixar de ser Artista.
Seus ouvidos procuravam entender as vozes da mata. Os pássaros foram seus primeiros mestres,. O rítmo nasceu do mar, do regato, do vento, da natureza enfim.
O silêncio, - ao cair da noite, era uma pausa musical. E o índio fez música. Com os elementos que dispunha: troncos, ossos, peles, - confeccionou instrumentos rudimentares com os quais celebrava as vitórias da guerra, o êxito das caçadas, o sucesso das expedições de todos so dias, lamentava as derrotas e assinalava as emigrações.
O som agudo do boré, trombeta de bambu ou taquara, ou o som rústico da inúbia, trombeta de guerra, feita geralmente de fêmur do inimigo vencido, excitava as tribos para as pelejas, proclamava as vitórias e marcava o início dos festins.
Os índios foram ótimos flautistas, e é evidente que davam preferência para os instrumentos de sopro.
Êles expressavam com a cadência monótona e uníssona, o mêdo das coisas, o pavor da cólera dos deuses e dos duendes das suas superstições e crendices. Dessas músicas enfadonhas, onde é comum s repetição dos mesmos tons e das mesmas frases, só nos chegaram farrapos, apanhados aqui e alí nas tribos que as guardaram como relíquias dos seus antepassados.
Elas traduzem ainda assim, o calor da terra exuberante, o ardor da raça e a ingenuidade do meio onde surgiram.
Música inédita, surpreendente, rica de emoção, porém rude e agreste, nela a natureza se sobrepunha à imaginação dos filhos da selva.
Na referência de Cardim, os ìndios antropófagos poupavam a vida do prisioneiro se "era bom cantor e inventor de trovas". Eram assim apreciadores intransigentes da arte.
A influência indígena sobre a nossa atual música popular é a de um tesouro inexgotável e ainda pouco explorado.
É a voz da terra eterna no coração dos seus filhos.

(Mariza Lira - Brasil Sonoro)

29 de jul. de 2009


...observo a lagartixa matreira
se esgueirando com a fluidez
gatuna de um predador noturno
ela surge, e tão logo
desaparece... por qualquer fresta
perdendo a festa da suculenta
mariposa pequenina, alucinada
pela única lâmpada acesa

(D. Tucci)

22 de abr. de 2009

SQUATTERS!

Originário da contra-cultura dos anos 60, o movimento squatter ganhou o mundo com seus ideais de solidariedade e afronta aos valores do sistema capitalista.Adriano Belisário
Em toda grande cidade, o abandono de imóveis contrasta com a massa de desalojados. Enquanto sem-tetos buscam abrigo pelas ruas, proprietários mantêm suas posses vazias com a esperança de vendê-las no futuro por um preço vantajoso. Geralmente ignorada pelo poder público, a especulação imobiliária não passa desapercebida pelos squatters. Nascido na contra-cultura européia dos anos 60, este movimento ocupa espaços urbanos ociosos para neles construir verdadeiros centros de resistência cultural.Formado basicamente por anarquistas, punks, hippies e comunistas, o movimento squatter luta contra aquilo que os pesquisadores chamam de gentrificação. Trata-se de um processo de enobrecimento dos espaços urbanos, que ocorre principalmente em pontos centrais das cidades. A gentrificação ocasiona a remoção dos moradores de áreas consideradas degradadas em prol da recuperação econômica do local.Por sua vez, os squatters promovem outro tipo de revitalização. Após limpar o prédio abandonado, eles instalam serviços básicos, através de “puxadinhos” de água, luz e gás. No entanto, a ocupação só é completa quando o local passa a ser sede de atividades culturais, como a instalação de bibliotecas, mostras de teatro e poesia e rádios clandestinas. Eis, então, um autêntico squat. A legalidade de seu funcionamento varia de acordo com a legislação do país. Enquanto em muitas regiões a prática é considerada ilegal, na Holanda, por exemplo, prédios abandonados por longos períodos podem ser ocupados sem problemas judiciais.Os squatters também são conhecidos como okupas. Entre eles, o termo "ocupação" é grafado com K para diferenciar suas intervenções das outras, marcando o caráter políticos de seus atos. A letra remete ainda à cultura punk, que, ao lado do anarquismo, forneceu as diretrizes básicas do movimento squatter. As ocupações são feitas em regime de autogestão, sem chefes ou líderes. Para os squatters, a construção de um espaço alternativo baseado em princípios de solidariedade e respeito mútuo é uma forma de resistir ao pensamento capitalista, centrado nas noções de propriedade privada e na massificação cultural.Para quem acredita que anarquia é sinônimo de bagunça, não faltam exemplos de organização squatter para provar o contrário. Em Londres, ficou famoso o caso do Squat 121 Center, que após 18 anos de existência foi desativado em 1999. Nele, entre outras atividades, os okupas realizavam ações de amparo à população pobre da cidade. Em relato à Revista Dynamite, Kuru, brasileiro ex-membro do squat inglês, afirma que o grupo era formado em grande maioria por revolucionários e pessoas ligadas à causa ecológica. “A gente ia aos lixos atrás dos supermercados e feiras. Pegávamos tudo o que eles não queriam mais. Era muita comida. Às vezes cozinhávamos para quase 100 pessoas”, conta.

Pesquisador da Universidade do Estado de Santa Catarina, Cleber Rudy estuda o movimento squatter e é autor de artigos sobre o tema. Em entrevista concedida ao site da Revista História da Biblioteca Nacional, Cleber comenta a atuação destes grupos no Brasil.Revista História - Na década de 60, surgiu na Holanda o movimento Kraker, que possuía atuação bastante semelhante aos squatters. Qual a sua influência na construção dos squats?
Cleber Rudy: A política squatter é fundamentada no movimento punk-anarquista, compondo uma espécie de simbiose squatter-punk. A máxima holandesa dos anos 80, “um punk é um squatter e vice-versa”, ainda que de forma amena, é também seguida no Brasil. Neste sentido, apesar dos squatters brasileiro não agregarem os dispositivos de resistência (rádios clandestinas, revistas, livrarias, advogados especializados, etc) utilizados nas ocupações dos krakers, este movimento holandês tornou-se um forte referencial de luta para os ativistas nacionais. Por exemplo, em Curitiba, o squat Payoll mantinha uma distribuidora de livros e de outros produtos chamada Kraakers, em homenagem ao movimento dos anarquistas sem-teto de Amsterdã.
RHBN – Os squatters surgiram no Brasil na década de 90. Antes disso, há registro de grupos que promoviam a ocupação sistemática de imóveis abandonados?
Cleber: Antes disso, o que se pode constatar são alternativas comunitárias que tinham como peculiaridade o perímetro rural, embasadas em princípios ecológicos ou esotéricos e envolvidas pela contracultura hippie. Todavia, os squatters voltaram-se para as áreas urbanas, optando por permanecer nas cidades e buscando soluções ali mesmo, já que eram compostos por punks (outro movimento urbano) motivados por perspectivas anarquistas. Eles buscavam saídas diante da especulação imobiliária, defendendo novas maneiras de pensar e agir como forma de resistência à organização capitalista da vida urbana, principalmente nos grandes centros.
RHBN – Quais os principais grupos ainda existentes no Brasil? Como suas atividades são vistas pela mídia e pelo poder público?
Cleber: Existem espaços que ainda resistem. Em Atibaia, interior de São Paulo, há a Casa Reciclada. Na periferia de Curitiba, temos a Kaazaa, um dos espaços mais antigos no Brasil, que já completou 13 anos de ocupação. Em Blumenau, há o Corcel Negro. Em Porto Alegre, a Kasa de Kultura. É muito raro a grande mídia dar cobertura a estes movimentos e à trajetória destas experiências. Isto praticamente só ocorre durante as ações de despejo. Todavia, os squatters possuem seus próprios dispositivos de comunicação e divulgação, como os zines, pequenos jornais feitos de forma artesanal e com uma tiragem reduzida. Eles intercambiam informações entre grupos nacionais e internacionais, relatando atividades e organizando encontros de confraternização entre okupas.Como o movimento squatter se coloca na contra-mão do estabelecido ao desafiar interesses imobiliários e políticas urbanas, o poder público tende a se mostrar hostil a tais iniciativas, não vendo distinções entre espaços ocupados com finalidade de atuarem como centros culturais e lugares usados como refugio para uso de drogas e depósito de furtos. Desta forma, o poder público acaba implementando uma legislação, como a efetivada em Curitiba em 1997, para sancionar o “lacramento completo de portas e janelas, proibindo a entrada de desconhecidos” em imóveis abandonados, visando, neste exemplo, coibir o squat Payoll.
RHBN – Além dos zines, a militância squatter utiliza também as novas tecnologias como forma de divulgar suas atividades?
Cleber: No caso do Movimento Squatter no Brasil, há ainda um certo receio na utilização de tais meios como um veículo de propaganda em favor da causa okupa. Aparentemente, tal desconfiança parece estar ligada a uma precaução face à represália policial, já que o ato de okupar implica em litígios jurídicos que revelam as dicotomias entre o direito à vida e o direito à propriedade, em situações em que se contempla um maior respeito ao direito de propriedade.
RHBN – Além dos embates com o poder público, os squatters enfrentam outros tipos de ataque?
Cleber: A causa squatter é abraçada grandemente por anarco-punks, ou seja, jovens que além de seguirem a cultura punk buscam na política anarquista um mote de embate social em defesa da liberdade, da igualdade e contra o capital, valendo-se da autogestão e da solidariedade. Do outro lado do cenário urbano há os skinheads, por exemplo. Trata-se de um grupo influenciado por ideologias nazi-fascistas. São grupos amparados em perspectivas de luta opostas.Na defesa de um modelo social conservador, os skinheads praticam ações violentas contra segmentos questionadores destes princípios, entre os quais os squatters. Para se ter uma idéia dos embates entre squatters e skinheads, o squat Payoll de Curitiba foi alvo de duas bombas caseiras em 1998. Um de seus membros foi ainda esfaqueado nas redondezas da ocupação.


Saiba mais:Advisory Service for Squatters - Serviço de apoio ao movimento squatter
Publicado originalmente na Revista de História da Biblioteca Nacional (versão on-line) em 27 de agosto de 2008.